25 de set. de 2013

Pessoa

Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre
um sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar.
Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profun-
deza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas
interpenetram-me, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o
que sonho.

Eu profundo e os outros Eus - Fernando Pessoa

14 de ago. de 2013

Herbsttag

Wer jetzt kein Haus hat, baut sich keines mehr.
Wer jetzt allein ist, wird es lange bleiben,
wird wachen, lesen, lange Briefe schreiben
und wird in den Alleen hin und her
unruhig wandern, wenn die Blätter treiben. 

Reiner Maria Rilke

1 de ago. de 2013

Toada

"
 Tanta saudade eu já senti, morena
Mas foi coisa tão bonita
Da vida, nunca vou me arrepender

"

27 de jun. de 2013

Entardecer de verão

A vida é incontornável e os destinos nascem e crescem ora sob a luz, ora sob as trevas. Renascem diariamente. São senhores da nossa vontade. Clamam por vida, esbarram em nossos sonhos. Singram no mar.  Quando um avião levanta voo, cortando as moléculas de ar, levam os destinos para qualquer lugar entre a solidão e a esperança. A esperança de um novo melhor, embora não sabemos, com exatidão, o que isso significa.
Partimos e chegamos, talvez para saciar a fome que nos toma, talvez para movimentar a engrenagem interna, que exige movimentos contínuos. 
O avião ainda levanta voo, o trem ganha os trilhos, enquanto centenas de destinos seguem seus rumos. Outros tantos ficam.  No coração as linhas se cruzam, formando vórtices, que a cada partida intensificam as marcas, impossíveis de alcançar, pois não as conhecemos.  A cada passo adiante, os olhos buscam pela janela um explicação dessa desconexão, que soterrará o presente, já então escombros.  Chega um tempo em que, por mais que tentamos evitar, as nossas prioridades mudam, ganham outras formas e lugares. Efeito de uma memória traiçoeira, que aos poucos se diluí para ceder lugar ao outrora inesperado.
A irreversibilidade da memória maltrata. Ter a consciência de que o novo sucumbirá o antigo, que as luzes também se apagam e, sem, muitas vezes, darmo-nos conta disso, reinventamos na ausência, cujo substrato a cada dia desaparece, para dar lugar ao que a vida nos obriga a aceitar.  E quando se vê, as convulsões do mundo nos engolem, deliberadamente, para o futuro irremediável.

10 de abr. de 2013

6 de abr. de 2013

Imagem aparente


A inspiração de escrever tem passado. Mas não de se emocionar. Ou seria a sequência dos eventos que tem atravancado o caminhar das palavras. Tenho mudado a minha voz, rara nos últimos dias, e também meus segredos. Segredos. Ah, os segredos. E a beleza de decifrá-los em mim e em você.  É incrível o quão obscuros somos diante de nós.  Esqueça: gordura, ossos, músculos, veias, cavas ou não. 65% Oxigênio. E 18 % Carbono. Somos tão mais misteriosos que estas estatísticas comunistas. Um poço, profundo, eterno. Marcado e talvez nunca regenerado. Se cavado até o âmago dos túmulos, somos vontades adiadas. Deleites antecipados. Uma flor sem limites, um manicômio de criaturas. E ainda afirmam dos 10% de Hidrogênio.  Se a revelação viesse com verdade, sem pudor, não alcançaríamos os nossos gemidos e nosso ignóbil silêncio. Dói, olhar para o mundo e ver essa viscosidade sem vida. Suas tristezas solidificadas, o que não mudam com a ordem geográfica.  Essa é a nossa grande unificação, nosso laço mais estreito e sem fim: a dor de existir do resto humano que usa cocaína com bicarbonato de sódio nas estações de metrô, brasileiras e europeias, é a mesma do businessman, aparentemente blindado, que dirige seu Porsche Panamera pela avenida que uma senhora observa, de sua janela, a frenética movimentação dos cadáveres.  Se vive em vão. No peito, nem sonho. A vida maltratada ou mal escolhida. E o mesmo soluço e nunca o encontro. Dói.

5 de fev. de 2013

Gewinner

Abre aspas

Ich bin dabei, du bist dabei.
Wir sind dabei, uns zu verlieren.

Fecha aspas

23 de jan. de 2013

Sobrevivente


Como quem não acredita na sobrevivência da hora do encontro, não por medo ou fuga, não por não sentir-se desamparado, nem mesmo pelas dores que a tardinha doíam,  já não era mais no mesmo compasso que batia a canção.  Já não acreditava que nem mesmo Vinícius desse qualquer solução.  Já não sabia mais onde estava o limite daquele mar, com aquele tamanho, com  aquele vento, aquele beijo,  que nunca mais esperou seu coração.