27 de jun. de 2013

Entardecer de verão

A vida é incontornável e os destinos nascem e crescem ora sob a luz, ora sob as trevas. Renascem diariamente. São senhores da nossa vontade. Clamam por vida, esbarram em nossos sonhos. Singram no mar.  Quando um avião levanta voo, cortando as moléculas de ar, levam os destinos para qualquer lugar entre a solidão e a esperança. A esperança de um novo melhor, embora não sabemos, com exatidão, o que isso significa.
Partimos e chegamos, talvez para saciar a fome que nos toma, talvez para movimentar a engrenagem interna, que exige movimentos contínuos. 
O avião ainda levanta voo, o trem ganha os trilhos, enquanto centenas de destinos seguem seus rumos. Outros tantos ficam.  No coração as linhas se cruzam, formando vórtices, que a cada partida intensificam as marcas, impossíveis de alcançar, pois não as conhecemos.  A cada passo adiante, os olhos buscam pela janela um explicação dessa desconexão, que soterrará o presente, já então escombros.  Chega um tempo em que, por mais que tentamos evitar, as nossas prioridades mudam, ganham outras formas e lugares. Efeito de uma memória traiçoeira, que aos poucos se diluí para ceder lugar ao outrora inesperado.
A irreversibilidade da memória maltrata. Ter a consciência de que o novo sucumbirá o antigo, que as luzes também se apagam e, sem, muitas vezes, darmo-nos conta disso, reinventamos na ausência, cujo substrato a cada dia desaparece, para dar lugar ao que a vida nos obriga a aceitar.  E quando se vê, as convulsões do mundo nos engolem, deliberadamente, para o futuro irremediável.

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