28 de nov. de 2010

Hoje é o sempre.


Não entendo o que me leva por caminhos desconhecidos, curvas tracejadas e sinuosas, e muito menos a vontade que tenho de vê-los e cheirá-los tal qual cão faminto. Talvez se assemelhe ao trabalho de um grande perito, que analisa cada ângulo da cena de um crime até decodificá-lo, de modo que o que era mistério, ilusão, se torne ao alcance das mãos. Mas em matéria de vida é mais complicado, é lento, tem morada no porvir. Um porvir do porvir, que não vem nunca, nem virá, e que é alimentado pelo instinto de proteção, consolo, abrigo, numa réplica de nosso estado embrionário. Por vir de um azul, desorienta e encanta, tendo na dúvida uma beleza misteriosa, que quando aliada ao tempo (implacável) nos tira qualquer orgulho ou presunção e nos mostra que a arte de (sobre, com, como) viver é reinventar todos os dias. Somos nossas reinvenções e quando reinventamos mais amor, mais atitudes, mais livros, mais música e mais liberdade, o presente, o passado e o futuro são desmistificados pra, então, as cortinas da vida se abrirem pra que dê início a um grande espetáculo que, por si, não sabe por que o é, mas existe e espetacularmente vive.Viverá.

26 de nov. de 2010

Premissa

Praga, a noite.

Há coisas que só os olhos veem, pra que o coração fique ali, quietinho, em estado de amanhecer em lugar nenhum.

24 de nov. de 2010

A vida, uma bela arte.

Por Gauguin-Paysage

A morte sempre foge as nossas tentativas de entendê-la, as palavras não dão conta de explicar a morte, no entanto não podemos evitar a morte e nem nos calar sobre ela. A representação não nos deixar sair daquilo que pode ser pensado, é um espécie de linearidade burra que não nos deixa, absolutamente, construir a desconstrução. Deve ser por isso que para falar da morte repetimos frases prontas, explicações que herdamos da nossa família, das religiões, do nosso contexto cultural. O que Deleuze propõe é que abandonemos essas frases feitas sobre a morte para criarmos o nosso próprio texto sobre ela. É como se tivéssemos que explicar a morte sem nunca ter ouvido falar dela. É como se fôssemos os primeiros a inventar um significado para ela e fazer da morte um acontecimento, isto é, um belo movimento de vida. A morte como horizonte.

Daniel Lins – filósofo contemporâneo

20 de nov. de 2010

Do cotidiano

Do genial, Vik Muniz.


Enquanto a toalha cobre 1/3 do espelho
E Neruda me espia
Com seu
Rios Invisíveis
No varal
As roupas esperam
Os primeiros raios de sol
E enquanto lembranças de viagens
Desenham-me uma
Ponte de silêncio e saudade
Praga,
Roma,
Munique
A porta entreaberta
E o armário vazio
Alertam-me:
8 tomates, 300g de queijo, azeitona
Café, 2 mangas, alecrim
E ainda dizem que
Não se faz poesia
Com acontecimentos.

19 de nov. de 2010

Dia de céu

Filme: Abril despedaçado - Walter Salles


Aquele que chega e que vai
Aquele que se perde
E que é renúncia
Aquele que ressoa
Ao amanhecer
Aquele que é cheio
De um abraço
Às vezes convexo
Que pouco sabe
Por vezes ventos do sul
Por vezes sopro brando
Aquele que é finito
E que tem nos olhos
Uma lua-cheia
Sempre que falta
Luz
No coração.

16 de nov. de 2010

Que tudo seja leve.

A impressão do por-do-sol, Monet.


Tenho tido dias esplêndidos
E gostado de ser
Ora calmo e profundo
Ora janela
Pra ver o sol nascer.

15 de nov. de 2010

Amanhã

Filme: Não olhe para baixo, de Eliseo Subiela.


Tenho sido muitos. Eu-mesmo fica pra outro tempo, hoje não.

11 de nov. de 2010

Pêut-Être

Foto: filme L'homme de sa vie

Os rumores do mundo
(O amor, a angústia, o desespero)
E a Bósnia-Herzegovina
Tal como se não fossem
Extirpam os nossos olhos
Que passam a ver as manhãs
Onde acordamos
Com abstinência de humanidade
E com o talvez
Atravessado na certeza
Da fruta-fresca
Em cima da mesa.