8 de ago. de 2012

Nossa virtude não é amar


Em qualquer conversa corriqueira, sejam nos e-mails trocados com amigos distantes ou até na intimidade de uma mesa de bar,  sempre está presente o mais que famigerado tema do amor.  A necessidade de ter um amor-para-todo-o-sempre, daqueles que nunca vêm ou daqueles que parecem nos virar de ponta cabeça e nos deixam noites sem dormir,  parece a solução exata para  uma vida plena.  No entanto, a contemplação é sempre maior que a satisfação.  Se o tem, queixa-o, do contrário, necessita-o.  Além disso, no primeiro deslize dessa-coisa-toda-minha que ninguém mais pode ter, o amor se espatifa em pedacinhos pelo chão. O que era como uma muralha, invencível por qualquer tormenta, vai abaixo como peças de um dominó, sem nem sequer a chance de uma segunda rodada ou prorrogação. Para o amor romântico, sim, ele é um tipo de amor, existem muitos outros, sem tantas idealizações que estão além, muito além, de qualquer bom  partido que um dia você encontrar,  é cartão vermelho sem opção de reclamação. E na tentativa de fugir da solidão, como se pudéssemos, muitos desses amores vêm com uma vida frustrada, tanto nos desejos sexuais quanto nas possibilidades de viver. 
A Física nos ensina que dentre os infinitos caminhos que a luz pode seguir de um ponto A até um ponto B, a danada escolhe aquele em que ela leva o menor tempo entre esses mesmos pontos, A e B. É o Princípio da mínima ação.  Como a luz, na sua preguiçosa e sossegada escolha, muitos de nós seguimos trajetórias pré-determinas pelo indivíduo sociedade. Sedados, tradicionalmente, seguimos.  Neste caso,  seria o Princípio da máxima acomodação, que nos dá o homem ideal, adaptável, que num mimetismo  reproduz costumes e tradições, buscando a ilusória estabilidade. E, claro, vem os filhos, o mais novo objeto de aquisição, herdeiros de nossos legados e também de nossas decepções.  Filhos podem ser a renovação, mas também podem ser expectativas desleais. O cinema não nos deixa mentir. A vida não nos deixa enganar. Ou, eles, os filhos, sejam réplicas idênticas (um crime!) ou haja saliva e sessões num divã para convencê-los das idiossincrasias familiares, como se eles, os pais, fossem os guardiões da maralidade. Não quero dizer que quem escolha uma vida em família não seja feliz. O que vejo é apenas um despreparo, grande, nosso.  Não nos unimos como complementos, mas como soluções. Um para o outro. E no outro, nós não moramos.   
Além do mais,  nós estamos longe de amar. Dessa virtude não sofremos. Não existe amor nas relações amorosas, de um para o outro, unívoco, injetor, o que existe é  a busca do autoconsolo e da nossa satisfação e proteção, o que pode ser feio, exigente e, no fundo,  infeliz.  Por conseguinte, quando procuramos um amor, procuramos acalmar nossas tormentas de maneira mais suja e covarde, como se o outro fosse um oásis no meio do deserto, e o encontramos, no momento exato para saciar nossa sede. E, ainda assim, nessa secura de tudo, esperamos ser felizes.  Pobre de nós. 

4 comentários:

  1. Elegantemente coesa sua forma de expressar essa opinião (com a qual concordo plenamente). Parece que tivemos epifanias parecidas. Você passou no meu blog antes de redigir isso ou foi transmissão de pensamento? Que coincidência gostosa!
    Beijo!

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  2. Dalê Sarinhaaaa! Não, não, eu já tinha esse texto há um tempo! Comecei a ler notícias sobre dias dos pais, essa marotona de propagandas, daí veio a calhar! hehehe.

    A propósito, excelente o seu, como sempre!


    bjão pra ti.

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  3. Salve Salve Bruno!!
    Você é, de longe, o cara mais liricizado (neologismo puro) que eu conheço!
    Talvez sejamos os alteregos de nos mesmos hahahaha
    Sugiro, talvez, mudar a locução de "princípio" para "regra"... Qualquer dia te explico o porquê.
    Precisamos marcar de conversar um fds em sp.
    Mande mail, quando puder, para theodoroamorim@hotmail.com
    Abraço!

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  4. Nossa... acho que (opinião=) começou muito bem falando sobre esse desejo de absoluto e depois acabou por julgar "oh homens, que tolos que sois, porque não amam verdadeira e descompromissadamente", "Porque vosso amor é todo contaminado" e etc.

    É uma pena que, ao preterir o nosso exagero romântico, muito bem dito em vários encontros como "dessa-coisa-toda-minha que ninguém mais pode ter", vc criou uma ideia de um amor totalmente imaculado, que ame sem querer ser amado, que só se una como complemento. Uma artificialidade, repara bem :).

    Na verdade você substitui bem uma coisa com outra, repara: antes um amor-que-só-é-válido-se-tiver-pra-si-todo-o-impossível-Universo, depois uma ideia de o que o amor deva ser uma idealização: o exato contrário do sofrimento a representar uma espécie de vazio das coisas.

    Finalmente o estilo niilista: "assim nessa secura esperamos ser felizes". E há alguma outra secura pra se procurar? rs*. Há a plenitude que nos deixa felizes? Não pode a própria secura ser a plenitude? As avessas? Ou sem reverter.
    Então... arrisquemos a felicidade só e tão somente nessa secura. Há uma coragem nietzscheana em se evitar o niilismo: em saber que nos jogamos no precipício, mas afinal, ele está ali, então que o façamos, rindo e dançando. E não negando a vida e os valores que temos porque eles não chegam perto dos valores idealizados que quereríamos ter! Abaixo ao platonismo! rs*.

    ;)

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