14 de jun. de 2012

Nosso mistério


                              
Que fugimos da insegurança com a força de uma tsunami, talvez poucos admitam.  Conviver com a falta é a grande atividade do ser humano. Se reparármos, estamos sempre transbordando de medos, desde a dança que o guarda-chuva faz na tentativa de nos proteger das gotas d’água, até uma visita de rotina ao médico.  Nos preocupamos tanto em nos proteger da violência, do sol, das partidas, dos beijos esquecidos, muitas vezes enfraquecidos, por razões claras: nossa auto-defesa e auto-proteção. Queremos proteger nosso coração contra o sofrimento e a solidão, essas áridas regiões que assombram e que estão sempre fora de lugar, deslocadas no tempo.  Queremos sonhos e conquistas, como um bem único. É uma sede de vida que assusta o mais bravo dos cavaleiros medievais, e nos torna tão valentes como se pode ver nas volumosas asas que nem mesmo a mais forte das tempestades pode derrubar.   Mas é no não entender desse desejo enorme, como uma multidão que parece andar de mãos dadas enquanto o mundo anda,  que está a fonte de sobrevivência e de temor. Em que querer estará o ponto final, o fim da trilha, o porto? No fundo parece tudo uma grande ilusão onde estamos imersos, como um açude no meio do sertão, no meio do destino.  Açude esse suficiente para a manutenção da nossa vida. É nele que se pesca. É nele que gado se agrada.  É na sua beira que amizades se fortalecem. Entretanto, a benção e a maldição de uma alma inquieta e desassossegada é um querer mais longe que esse, bem longe, onde o horizonte tange  o por- do – sol.  É lá que vamos encontrar os açudes mais vistosos, mais límpidos, lá os açudes são mares inteiros, esplendidos. É lá que vamos encontrar os mares de saudades, é lá que estão os mares de sertão, tão vazios e ásperos quanto a nossa sede.

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