Tive uma infância como qualquer garoto. Subia em árvores, soltava pipa, criava peixe como se fosse gente. Gostava de andar com os pés descalços e correr na rua até a hora da minha mãe gritar e me pedir pra tomar banho. A vida lá, com pitangas e jabuticabas, não era melhor nem pior que a de hoje. É bem verdade que muita coisa mudou. A cidade, de poucos mil habitantes para uma com milhões de pessoas, sem contar o ambiente, objetivos e responsabilidades. Mas quando pude, não hesitei em me mudar, pois sou movido por transformações e por mais que doam, acredito que é esse o nosso destino. Alguns fatos nos entristecem, mas nunca duram muito tempo. Machucam e depois vão abrandando. Gosto de dizer que a vida tem movimento próprio e o que era dor e saudade se restringe a um amontoado de lembranças e objetos.
E aqui vou construindo mais uma parte da minha vida, com amigos, amores e minhas atividades diárias. Vou sabendo que não há nenhuma segurança no caminho, nenhum porto ou salvador existe, e que a vida da gente ora é consolo ora é agonia e medo. Sigo meus dias confiando que amanhã seja um dia melhor, onde com amor eu possa fazer minhas descobertas e mudar de rumo quando for preciso. A estrela mais linda, hein? Tá no Gantois. E o sol mais brilhante, hein? Tá no Gantois. A beleza do mundo, hein? Tá no Gantois. E a mão da doçura, hein? Tá no Gantois. O consolo da gente, hein? Tá no Gantois, cantaria Maria Bethânia.