Moça na janela - Salvador Dalí
Embora ninguém soubesse, desde pequeno gostava de ouvir histórias e ver sorrisos tímidos. Nos lugares onde frequentava, como festas, bares e cinemas, não se preocupava com as distâncias e nem como chegaria. Era observador, atento e procurava enxergar aquilo que lhe causava espanto, alegria e dor: um vestido azul, rostos desatentos, mães com seus filhos, olhos de velhice, a ternura dos casais, a simplicidade de risos e abraços, um dia acabando, a felicidade e tristeza em estado natural - que sabia aparecer naqueles momentos nos quais as pessoas estão completamente sós, e completas.
Buscava-se no outro e mesmo com o impacto que isso lhe trazia era audacioso e não sentia medo de saber que seria assim pra sempre: seu corpo buscando a moldura exata entre a esperança e a solidão.
Sem entender os porquês - sabia que eles não existiam - preferia nesses momentos descalçar os sapatos, desenhar num papel uma casa e alguns caminhos, escapar pela janela que dava para o horizonte e entrar no primeiro silêncio que encontrava.
Escrever pode ser também a liberação da memória, das percepções de mundo. As palavras escritas se transformam em imagens. Você faz isso muito bem.
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